Archive for Outubro, 2007

DocLisboa – Vento Norte 2

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…continuação do nº1

Depois de sair dessa sessão fantástica que me chegou da Noruega entrei de imediato na mesma sala para o segundo filme que dizia a sinopse ser sobre um jovem à procura do Pai. De resto alerto aqui para a reduzida informação que divulgam (os organizadores do evento) e por vezes da sua falta de rigor!

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Este jovem é só…..repare-se….o realizador do Dogville Confessions e esta é a sua primeira obra (Family, de 2001). Pois eu tinha já visto o Dogville Confessions, ainda antes do próprio filme e fiquei delirante, é uma obra cheia de coisas interessantes um documentário no melhor estilo “cinema veritá”. Sami Saif em 2001, ou seja 3 anos antes, realiza este “Family” na tentativa de resolver um problema consigo mesmo….a raiva que tem ao Pai.

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Ao que parece o Pai desaparece numa altura em que ele era ainda miúdo, daí que poucas ou nenhumas recordações tenha disso. Na falta de certezas todos temos duvidas e o Sami não me parece suficientemente diferente para fugir da natureza humana e assim depois da morte do irmão, por suicídio, a vontade de não estar sozinho no mundo (a mãe havia morrido uns anos antes) suscita-lhe vontade de conhecer o Pai. Isto parece natural porém deve ser altamente ambíguo este sentimento porque presume-se que ele culpabiliza o pai de muitas coisas e simultâneamente tem de ser portador de noticias péssimas para o que é sempre desconcertante para o mensageiro. Ao mesmo tempo que ao conhecê-lo se desenrola o processo de desenvolver alguma intimidade e isto tudo é aquilo que ele está prestes a despoletar….em frente de uma câmara!

Tudo isto é tão mais interessante (para mim) pelo facto de Sami ser de ascendência árabe. Eu tenho um grande interesse pelos árabes e pelas relações inter pessoais dessa civilização pois sempre me pareceu que elas apesar de muito diferentes dos estereótipos a que estamos habituados, sobretudo da moralidade (duvidosa) que temos, apesar disso sempre achei que eles, se relacionam duma forma muito humana, as relações das pessoas no mundo árabe são muitíssimo estreitas e reais, muito embora aos nossos olhos, vistas pelas regras que temos no que dia respeito aos direitos humanos, direitos da criança e da emancipação da mulher, direitos de igualdade e liberdade, aos olhos que viram estes princípios, os definiram e limitaram é claro que aquelas relações são infractores de direitos básicos consagrados. Não obstante é razão suficiente para que o filme ganha-se interesse acrescido pois aquele rapaz tinha mais um problema (ou solução) que era o choque de cultura e o ajuste necessário para conhecer a família.

Posto isto o que é que sucede?!?….ora bem na Dinamarca os tipos controlam tudo e assim ele foi à câmara municipal saber sobre o Pai. Facultaram-lhe a informação de tinha saido para o Iémen e o Sami não faz mais nada….liga para a PT lá do sitio, para as informações do Iemen….é simples(mente) genial. Numa sucessão de telefonemas chega a falar com um irmão do Pai e depois com um primo e novamente com o Tio numa espiral vertiginosa de sentimentos. Acaba por combinar com o Tio ir visitá-lo, e vai mesmo!

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Em lá chegando encontra-se com o tal Tio, uma pessoa calmíssima que lhe pergunta o que é que ele quer do Pai e o que pretende com a visita, explica-lhe o mínimo que consegue e fala-lhe da família, sobretudo dos irmãos. Termina aquela conversa com um raciocínio ternurento e muito sábio sobre a descoberta que o Sami tem pela frente e o prazer que isso lhe pode dar se ele estiver com as intenções certas e sobretudo do direito que ele tem de descobrir ele mesmo a verdade sobre a sua familia, justificando assim não lhe dizer mais nada além das informações essenciais. Deixa no entanto claro como água que iria interceder junto do Pai de Sami. Era qualquer coisa deste género que eu esperava, fiquei encantado com aquele saber milenar e aquela verdade com eles (árabes) se relacionam!

O melhor do filme é mesmo o que se segue….a descoberta do irmão mais velho que é um personagem brutal!!….um cantor de musica popular, pessoa calma, genuína, boa pessoa! Mesmo boa pessoa e, claro, aquela proximidade imediata…aquela maneira de ser família , aquela ausência de desconforto e do outro lado, do lado de Sami, tudo isso presente pese embora as intenções genuínas. A melhor cena do filme é a reacção do irmão mais velho de Sami quando lhe conta a forma como o irmão se suicidara….o homem desata a chorar convulsivamente e pede perdão duma forma tão sincera que até eu lhe perdoei! …” a responsabilidade é minha, perdoa-me!…eu sou o mais velho, se estivéssemos juntos talvez eu pudesse ter….” é incrível! O gajo nunca tinha visto aquele irmão morto pelo nó cego da corda com que enforcou e pede perdão por não tê-lo salvo?!?

Este irmão ajuda mesmo o seu “mais novo” a ajustar a raiva que tem do Pai, explica-lhe tudo, conta-lhe as coisas e fala sobre o egoísmo, a vaidade, o desapego que caracteriza o abandono dos filhos, ele incluído. Fala disto sem raiva, parando sempre para ouvir o irmão, sabendo sempre que não é ele que está em questão e esse auxilio, esta maneira impar daquele povo, personificado pelo irmão mais velho de Sami, é o que de melhor podiam fazer pelo rapaz, que vai assim ajustando os seus sentimentos num ambiente verdadeiramente intimo sem maneirismos e sem rodeios, sempre com uma palavra sábia e um ouvido justo ao seu lado.

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Não conhece o Pai nesta aventura e esse é precisamente o final inesperado que nos oferece, o telefonema que recebe já na Dinamarca desse Pai que conhecia já, nunca tendo olhado nos seus olhos……BRUTAL!!

Parabéns Sami….pelos dois filmes que já vi, certamente teremos aqui um grande realizador nos próximos anos, literalmente A NÃO PERDER!!

Outubro 24, 2007 at 10:18 pm Deixe um comentário

DocLisboa – Vento Norte

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Dizia eu no último post que tinha ido ao DocLisboa e tinha recuperado um bocado dessa virgindade, dessa pureza inicial…essa inocência do olhar e para isso só mesmo os meus irmãos do norte da Europa, no caso um Norueguês e um Dinamarquês de ascendência árabe.

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O primeiro é o Even Benestad que pelo que percebi apenas fez duas obras, “all about my father” e “natural born star” a primeira em 2001 e a segunda em 2007. Foi a de 2001 que fui ver e posso dizer que é absolutamente brutal! Tivesse eu estado com atenção em 2002 e tinha visto este mesmo documentário na edição desse ano do Festival Gay e Lésbico que como sempre está na linha da frente do melhor que se vai fazendo na sétima arte!

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Este Even é filho de um médico Esben Benestad que vive numa pequena cidade e tem consultório montado…até aqui…tudo bem!…tem também editados vários livros de educação sexual e escreve artigos para revistas….até aqui….tudo bem!….ao que parece é politico Liberal e apesar disso ser uma coisa degradante não sobre isso que o filho faz este documentário, o que ele é também e que o filho decide documentar é ……. Travesti!Pois é isso mesmo uma traveca, Esther Pirelli, do melhor que já se viu, cheio de si mesmo e duma conversa de diversidade e orgulho gay que pratica mesmo, com uma mulher que vai naquilo e sai á rua descontraidamente com o seu marido vestido de mulher e vão ás compras juntos a lojas de mulher e a jantares e eventos sociais….enfim uma coisa mesmo atípica, valentemente corajosa e até admirável naquela prespectiva do mundo diverso e da liberdade de escolha…..o único problema é talvez o filho e a filha que vendo aquele comportamento já de si chocante (para eles, claro) ainda por cima a ser espalhado ao sete ventos com atitudes espalhafatosas de soberba gay, ficam assim tipo….”meu! qual gaja qual quê!….estamos a falar do meu…..PAI!”.

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Tudo isto é focado num brilhante documentário, que pretende ser uma visão da realidade do pai mas do ponto de vista do filho. Consegue muitíssimo bem, cheio de ternura, duma proximidade ao Esben e ao mesmo tempo duma inflexibilidade e dum distanciamento e até repulsa a Esther (personalidade traveca de Esben). O realizador usa a Irmã e a Mãe (divorciada do pai por causa deste tema) para mostrar e lembrar o pai que teve e que era uma espécie de super-pai que velejava, fazia desporto era reconhecido na sociedade como profissional e como elemento mainstream de grande valor para uma pequena cidade….a irmã fala dele duma forma carinhosa e saudosista e mantém a sua relação inalterada com o pai, tentando cooperar com a sua preferência, a sua escolha e chega a ir a encontros de travestis com o pai a Oslo….é simplesmente fantástico, uma capacidade brutal de ajuste e de encaixe. Usa também a madrasta que é uma mulher inteligentíssima e novamente a irmã para levantar o véu sobre o futuro deste homem que receiam as duas se venha a transformar progressivamente numa mulher, deixando morrer a sua faceta masculina e esse momento é dos melhores do filme em que fica exposto claramente a preferência de todos os que Esben ama pelo seu lado masculino e que imediatamente nos transporta para o egoísmo, para o egocentrismo e para o alienamento que este homem vive! Muito para lá da conversa da diversidade que faz sentido em certo espectro, mas que quando se chega à intimidade de uma vida familiar e a perguntas como esta, deixa de fazer sentido pois que se está a falar da pessoa em concreto, da vida dos que com ele vivem e vão viver até ao fim, dos que o amam de verdade!!

O problema maior, no presente, parece vir de onde menos o pai espera, do filho, que apesar de não alardear a sua incompreensão e o seu inconformismo ficou, no processo de divorcio e na posterior fase de comportamento afirmativo do pai, do seu ” sair do armário”, ficou dizia eu, entrincheirado numa espécie de silêncio neutro que o pai parece achar ser uma forma de adaptação mas que se vai vendo ao longo do documentário que é mais um grito mudo de ….” isso é tudo muito giro se não estivéssemos a falar do meu PAI!!!”.

Ainda dá para ir ver na próxima sexta dia 26, ás 16.15h no pequeno auditório é uma coisa que se não deve perder de forma alguma, super actual e um monumento à diversidade por um lado, mas também ao pormenor gigantesco de que as escolhas individuais podem ter consequências graves naqueles que supostamente deveriam ser a força motriz das nossas escolhas individuais.

Sobre o segundo filme falo no próximo post.

até jazz

Outubro 24, 2007 at 10:05 am 2 comentários

Se não me trai a memória! – o cinelagoa

 

 

Há muito tempo que não me sentia “virgem” a ver cinema e isso aconteceu-me no doclisboa. Fui a duas sessões consecutivas aqui ao lado no cinema Londres, logo no dia de abertura e fiquei com a sensação de que tinha descoberto uma coisa nova!

 

Ora bem….eu vejo cinema desde que lembro de mim, cinema não….vejo filmes!…e vejo-os onde quer que eles estejam a dar, sejam sobre aquilo que forem, com quem quer que esteja a representar e nunca lembro de ter saido de um filme a meio ou sequer de não ter gostado de algum que tenha visto!

 

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As mais antigas recordações que tenho do cinema são simplesmente incríveis…..tipo “cinema paraíso”, quando éramos putos, eu e o meu irmão, costumávamos ir nas férias grandes para um de dois sítios….ou Queluz para casa da minha avó ou para a Lagoa de Albufeira onde a Nela e o Zé, uns amigos dos meus pais, tinham uma casa e um parque de campismo. Ora, na Lagoa havia um barracão de chapa ondulada com uma bancada desconchavada, aquilo tinha sido laboriosamente construido por um tipo que tinha trabalho na construção da ponte sobre Tejo e que tinha um filho que era o gajo mais parecido com o Paulo Futre que eu vi até hoje….era o nosso modelo de comportamento, o engatatão que tinha tiradas do género “…então jóia?….já não falas ao ourives!”….é verdade!!….juro!!….era isto o nosso aspiracional, mas nem tudo se perde e aquela construção precária de andaimes com tábuas de madeira para um gajo se sentar foi um verdadeiro filão de boas recordações em germinação!….claro que aquilo era tudo amador mas cobrava-se bilhete, os putos não pagavam e eu estava lá sempre batido, quando não havia lugar sentado íamos para debaixo das bancadas ou ficávamos à frente sentados no chão, comíamos pipocas salgadas e algodão doce.

 

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Aquilo é que era cinema!….foi ali que eu vi todos os filmes do Bruce Lee….o dragão ataca, o fist-of-fury, o regresso do dragão…enfim!….ainda hoje me lembro de sequências completas como aquela que o gajo entra na escola e kung fu rival e deitado no chão a rodopiar tipo “break dance” desnca uma trupe numerosíssima de vilões….é por causa desta cena que sempre gostei do “desperado” e daquele exagero, aquelas matanças, aqueles intermináveis e impensáveis tiroteios de onde o “banderas” sai sempre ileso e bem penteado!

 

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Mas não era só bruce Lee….foi por exemplo ali que vi os “deuses devem estar loucos” uma clássico!!….vi também os filmes do meu primeiro ídolo a sério…..claro…..o inominável, inesquecível…..Chuck Norris!….o lobo solitário, olho por olho, desaparecido em combate um sem fim de fitas que ficam nos anais da história do cinema…foi naquela altura que entrei para o judo a pensar que todas as artes marciais usavam pontapés rotativos, foi também nessa altura que pedi á minha mãe umas calças de ganga pretas…..elásticas!!

 

Outubro 23, 2007 at 6:15 pm Deixe um comentário

Prodigalidade Tuga – 1

Tenho andado como PC avariado….só isso!

…retomo o blogue com um “must” da minha proverbial antipatia e consequentes reclamações, demonstra também a prodigalidade tuga em serviços ao cliente, sobretudo no pós-venda!

Isto é uma reclamação que mandei para uma marca de fogões em 2003 quando vivia em Santos-o-Velho como meu “irmão-de-lisboa”, o Magalhães.

…a queixa haveria de ser feita no site queixas.pt

queixa / reclamação nº: 6440
autor: Pedro Morais Cardoso
entidade visada: Whirlpool
tipo de queixa / reclamação: Assistência
data: 2003-12-29 16:26:16
Texto da queixa / reclamação:
Lamentável.

Arrependido é demasiado brando, no entanto expressa bém a desilusão que a a vossa companhia é para mim hoje.

No dia 30/11/2003 adquiri na loja singer da torre das palmeiras em Oeiras um fogão, na altura da escolha ( maldita hora)

decidi por um whirlpool, ” Zanussi não mãe prefiro a whirlpool, se alguma coisa correr mal fico mais protegido”

…santa ignorãncia a minha.

O problema que haveria de surgir é clássico, o fogão é da gás de botija e o meu por ser em lisboa é gás natural, na altura na loja disseram-me o natural, “dentro de um ou dois dias trocam-lhe os injectores, é só ligar para a

assistência e marcar um dia para fazerem isso”.
O problema esse acontece a todos, é na resolução do mesmo que se distingue o trigo do joio.

No dia 04/12 surge o tipo vestido de fato e gravata à porta de casa, não, não era o agente imobiliário nem o vendedor de livros…era “elasse” o técnico da Joaquim Silva, Lda a asistência da whirlpool portugal, ” hum….isto precisa de injectores de gás natural e de um botão para o forno que está partido. Tém aqui este papel e muito boa tarde”.

Boa tarde uma ova! O problema lá em casa não é falta de papel é falta de fogão!

De charola para a loja das palmeiras nesse mesmo dia para resolver duma vez por todas o problema!

Resolves o tanas, que isto de whirlpool ser bom é para quem tem paciência e dias para perder…       ” daqui a quatro dias úteis no máximo a whirlpool entrega as peças á assistência e eles ligam-lhe para lá irem instalar isso”

Quatro e quatro, oito mais dois do fim de semana dez! quem diz dez diz vinte e diz trinta.

Hoje dia vinte e nove do doze, da assistência dizem-me que injectores não vieram.
Tivesse eu sido um menino bém comportado durante o ano e pai natal talvez me tivesse presenteado, assim como estou a lidar com a whirlpool e seus brilhantes representantes sou corrido a gritaria porque isto de protestar por um bom serviço é claro não faz sentido em Portugal aqui só se tiver falinhas mansas.

Em panico, refém desta gente da whirlpool, tenho de resolver o assunto ou então esgota-se o tempo de troca de produto na loja e depois é o deus nos acuda da garantia.

Cá vou eu pois MENDIGAR com a senhora da loja que depois de falar com a assistência técnica me diz que não há solução mas como ela é uma pessoa muito espedita vai trocar o meu fogão, um favor, o nacional porreirismo a funcionar.

Do melhor que se pode encontrar! Somos incompetentes, não sabemos fazer o B-A-BA das profissões que exercemos, não temos o minimo sentido de serviço ao cliente, atalhamos tudo isso, tabúa raza, mas o “Extra-Mile” nós fazemos!

desenrrascamos, safamos a cena!!

Brilhante senhores, estão inseridos!! A Whirlpool é mesmo Portugal, absorveu na sua plenitude o espírito da coisa portuguesa.

Conseguio neste caso em particular lesar os interesses do cliente, defraudar completamente as expectativas de seviço, conseguio atingir os desejados niveis de incompetência e borucracia e no fim fica com um cliente que passa por chato, e ainda tem de olhar para o fogão todos os dias e rezar para que não lhe aconteça mais nada.

Falta apenas a cereja em cima do bolo, responderem a este mail com a aquela coisa bém Portuguesa, género ” …lamentamos, no entanto muitas vezes as assistências não correspondem às demandas de qualidade da nossa companhia, ainda assim uma reestruturação nessa área está em curso pelo que esses e outros problemas deixarão de existir em breve, agradecendo as suas opiniões que etc e tal…” enfim o diabo a quatro.

já agora.

FAQ

Os técnicos não deveriam andar com material técnico?

As assistências técnicas não existem para resolver problemas?

Este problema de troca de injectores é tão pouco usual?

Se é usual, responda novamente à pergunta um e dois?

Outubro 10, 2007 at 5:56 pm Deixe um comentário


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